O grupo Frutas Futuro, formada pelas Fazendas Novo Horizonte, Estrela, Iguaçu, Futuro e Esperança ocupa nas cidades de São Félix do Coribe (BA) e a vizinha Santa Maria da Vitória (BA) – separadas pelas águas do Rio Corrente no sul da Bahia, 3 mil hectares com tecnologia de irrigação. Enquanto, as Fazendas Planalto, Palmeiras e Ipiranga mais ao sul na cidade de Eunápolis, completam a área irrigada do grupo.
Propriedade dos empresários João Bayer, Walternan Andrade Vieira (57) e Marcos Cezana (54) começou a tomar forma em 2003, a partir da união de objetivos conjuntos. “Somos amigos e já nos conhecíamos, ambos trabalhavam na área agrícola e surgiu a ideia de unir forças. No início arrendávamos as terras para o plantio e, no decorrer dos anos, fomos adquirindo as áreas. As coisas começaram a fluir e estão andando até hoje,” conta João Bayer.
O negócio começou com a produção de mamão e hoje se estende nas culturas de cítricos – laranja, limão e ponkan, plantio e produção de café, grãos – milho, feijão e soja, banana e a criação de gado de corte. A rotação de culturas foi uma alternativa para evitar os desajustes do tempo e do mercado. “Quem trabalha com o agro sabe que os fatores externos contribuem muito para o sucesso ou não de uma safra, essa diversificação é uma estratégia inteligente de minimizar prejuízos e garantir maior rentabilidade,” avalia o empresário.
“Começamos com o mamão e vimos a diversificação para não ter problemas com a safra. Nunca todas estarão boas e ruins ao mesmo tempo – a lei da oferta e procura, é o que faz o preço no mercado, um ano sobra, outro falta e assim vamos ajustando,” pondera. Atualmente 620 pessoas auxiliam nas demandas diárias, enquanto em épocas de safra, o Grupo emprega aproximadamente 300 profissionais de forma indireta. Além do mercado interno – São Paulo, Brasília, Goiânia, Paraná, o mamão é exportado para sete países da Europa e os citros atendem o mercado interno.
Se a análise dos custos é imprescindível para uma boa gestão dos negócios, a economia na conta de luz é um resultado atrativo da ponta do lápis. A alternativa foi consenso pelo grupo de empresários que investiu em energia solar. “A agricultura se baseia em custo de produção, e a redução no gasto com energia elétrica está diretamente ligado a isso, cada centavo melhora sua margem,” indica João. O projeto conta com 3 usinas para atender aproximadamente 17 contas, explica Rafael Sant’Ana diretor da Seed Engenharia empresa credenciada Renovigi em São Félix do Coribe/BA e que conta com filiais em Governador Valadares (MG) e Baixo Guandu (ES).
Conforme destaca Rafael, o projeto buscou atender o consumo do grupo B – baixa tensão que possui o valor do kW mais caro. O investimento ultrapassou a cifra de 1 milhão e o sistema conta com 924 painéis da marca Canadian de 365 kW e 3 inversores de 75kW Renovigi. Dois deles instalados em estrutura de fixação no telhado e outro no solo. O gasto com energia elétrica de aproximadamente R$ 21 mil foi transformado em lucro e a economia ultrapassa R$19 mil ao mês. O investimento foi viabilizado pelo Banco do Nordeste (BNB) e as faturas caíram para taxa mínima.
Rafael indica que um novo projeto será implantado para atender o gasto do grupo A – alta e média tensão, que corresponde ao uso das bombas de irrigação. Uma vez que 3 mil hectares são cultivados nessa modalidade.
DEMANDA AQUECIDA
A captação de energia solar no Brasil tem aumentando expressivamente. O resultado pode ser atribuído ao potencial energético do País, mas também pelas características sustentáveis e econômicas. Um exemplo que pode ser utilizado como referência é o sistema da Frutas Futuro, onde a produção de energia alimentaria 278 casas com consumo médio de 150 kW/mês. Ganha o agro, ganha o setor primário, ganha a comunidade.
A simplicidade do empresário de 55 anos revela que a colheita de frutos se dá por muito trabalho, dedicação e persistência. Constantemente João pega a estrada para um rodízio de visitas nas propriedades. Ele mora em Pinheiros (ES) cidade com aproximadamente 27 mil habitantes e conhecida como a Capital da Fruta e maior produtora de mamão do Brasil. Com gosto pelo que faz, o técnico agrícola defende uma prática focada na preservação dos recursos naturais associada a tecnologia de precisão, ingredientes que potencializam qualquer receita.
“Primeiro temos uma energia limpa, segundo a diferença no bolso e depois de quitado, mais de 20 anos para usufruir. É uma conta que fecha rápido,” brinca João. “Na energia fotovoltaica você tem um payback (tempo de retorno) atrativo. Pensar que podemos substituir o gasto com a irrigação por um financiamento por exemplo – com carência de até 3 anos e até 10 para pagar – e ainda trocar o valor da conta pela parcela, é muito vantajoso.”
O presidente do Conselho de Administração e CEO da Renovigi Energia Solar, Gustavo Müller Martins aposta numa crescente de consumo da região nordeste e considera um estímulo para a produção agrícola. “Um mapeamento da Nibble, startup de tecnologia da Renovigi mostra 80.709 sistemas fotovoltaicos instalados na região Nordeste – incluindo os nove estados – Maranhão (MA), Piauí (PI), Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Alagoas (AL), Sergipe (SE) e Bahia (BA) – sendo 57.108 residenciais (322,54MW), 20.144 comerciais (368,80MW) e 3.457 rurais (432,81MW) com potência total de 734,63MW. Isso mostra que o agronegócio é um segmento promissor para popularizar o uso dessa energia, uma forte aliada dos agricultores e irrigantes,” avalia.
Ele também revela o interesse da Renovigi – líder na fabricação de sistemas fotovoltaicos no Brasil em instalar uma unidade na região Nordeste, em virtude do potencial em termos de capacitação da energia solar e a compensação significativa nos custos de produção, onde a economia na conta de luz pode chegar até 90%. “A Renovigi tem investido em inovação e sustentabilidade para popularizar o acesso à energia solar por consumidores em todo o país. Nossa intenção no Nordeste é oferecer esse suporte apresentando tecnologias e soluções inovadores em painéis, inversores e acessórios voltados à geração e armazenamento da energia produzida pelo sol,” justifica o CEO.
109 SISTEMAS E UM CONSELHO
Os dados exclusivos da plataforma da Renovigi correspondem a levantamento do mês de janeiro de 2021, mapeados por um algoritmo que faz a convergência com as informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Outros números revelam 39 sistemas de energia fotovoltaica em São Félix do Coribe (ES), sendo 15 comerciais (532,7kW), 22 residenciais (204,7kW) e 2 rurais (90kW) uma geração equivalente a 827,4kW. Já em Santa Maria da Vitória (BA) são 55 projetos e total de 686,62kW distribuídos em 33 residenciais (225,22kW), 21 comerciais 411,4kW) e apenas 1 rural (50kW). Enquanto em Pinheiros (ES) o total é de 15 sistemas que totalizam geração de 161,64kW, divididos em 11 projetos residenciais (64,49kW), 2 comerciais (35kW) e 2 rurais (62,15kW). Juntas as três cidades totalizam 109 sistemas de energia solar, grande maioria instalados pela parceira Seed Engenharia.
Questionado sobre o conselho para os que estão começando ou pensam em empreender, João é realista e esperançoso. “Ser empresário no Brasil é desafiador. Empregar pessoas é difícil, é preciso resiliência. Não parar no tempo, conhecer os números e tê-los na palma da mão, acompanhar as evoluções do mercado, as novas tecnologias de aplicação que surgem e auxiliam na produção para reduzir custos. Minha mensagem é que não desistam, o Brasil é um País grande e promissor, temos água e clima favorável, nos resta produzir.”
Izabel Aparecida Guzzon – Jornalista/MTE 5573/SC