“A ideia de investir em energia solar surgiu em 2018 quando tivemos o primeiro contato e solicitamos um orçamento. Porém, não foi possível pela estrutura do telhado do supermercado, era pequeno e não suportaria um sistema fotovoltaico de acordo com a nossa necessidade,” explica o empresário e administrador do Supermercado Bedin, Tiago Bedin.
Com o passar do tempo e a vontade de dar continuidade ao projeto, Tiago encontrou uma solução. A utilização dos créditos gerados pela energia solar através do autoconsumo remoto. “Temos uma fazenda que estava parada em Nova Itaberada, município próximo a Chapecó e com a intenção de criar gado em confinamento resolvemos adequar e construir uma estrutura para comportar um sistema. Unimos o útil ao agradável e passamos a gerar energia no campo para creditar na cidade.” Além de gado em confinamento, a propriedade também conta com produção de ovinos e vaca leiteira e os painéis estão localizados no telhado dos galpões.
Lucas Jose Frizon diretor da Domuss Energia Solar de Chapecó, credenciada a Renovigi, sinaliza que o cliente buscava alternativas para diminuir o gasto com a energia elétrica. “A partir do valor da fatura identificamos a quantidade necessária de painéis solares, moldes e configurações do inversor para elaborar a proposta. Também observamos a necessidade de ajustes na rede de distribuição de energia para comportar a potência do projeto,” explica.
Foi necessário expandir e reforçar a rede substituindo o transformador para uma capacidade maior. “Esboçamos um modelo de até 75 kW onde a concessionária efetuou o serviço com os ajustes adequados. Posterior, iniciamos a instalação e dentro de um mês o sistema estava funcionando. A capacidade absorve 80% do consumo e o cliente já sinalizou o interesse em aumentar a quantidade de módulos para atingir a geração máxima, de até 95% de economia”, informa Lucas.
Como resultado do investimento Tiago viu a conta de luz diminuir significativamente. Antes o consumo mensal que era em torno de R$ 12 mil passou para R$ 4 mil. Em funcionamento há seis meses, o sistema conta com 282 placas e o valor investido foi de R$ 260 mil com apoio de financiamento. Além do supermercado Bedin, o sistema também supre a necessidade da fazenda onde o consumo ocorre em menor quantidade.
CONSUMO REMOTO
Uma das possibilidades encontradas pelo empresário para fazer uso da energia solar foi o Auto Consumo Remoto. Esse mecanismo teve a validação pela Resolução Normativa 687/2015 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 2015 e, desde então, sofreu um grande salto pela capacidade de gerar energia em um local e compensar na conta de luz de outro.
Porém, conforme orienta Vanderleia Ferraz, engenheira elétrica da área de suporte técnico da Renovigi essa modalidade se enquadra nos sistemas fotovoltaicos conectados à rede (On-grid), e desde que as unidades consumidoras tenham a mesma titularidade e estejam dentro da área de concessão da mesma distribuidora.
31 SISTEMAS EM NOVA ITABERABA
Outro fator que reforça a expansão do segmento corresponde ao mapeamento divulgado pela Nibble, startup de tecnologia da Renovigi que mostra o número de sistemas solares instalados no município de Nova Itaberaba, com pouco mais de 4 mil habitantes. São 31 sistemas de energia fotovoltaica que juntos correspondem a potência de 441,34 kW. Desse número, a área rural é que tem suprido maior demanda de energia solar com 22 sistemas e potência de 296,18 kW. Seguida por 6 projetos residenciais com capacidade de 32,90 kW, 2 comerciais com 38,22kW e uma demanda no ramo industrial com 74,04 kW.
Conforme o CEO da Nibble, André Luiz Dallacorte “os dados correspondem a levantamento do mês de outubro e são mapeados por um algoritmo que faz a convergência com as informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)”.
MANUTENÇÃO E LIMPEZA
Uma dúvida que geralmente surge corresponde a manutenção e limpeza dos módulos que integram um sistema de energia solar. Painéis sujos comprometem a eficiência pois, diminuem a incidência de radiação solar sobre a superfície. Usemos como exemplo uma janela de vidro, mal cuidado atrapalha a visibilidade e pode até deixar a impressão de desleixo. Porém quando é feita uma limpeza, deixam um ar de maior receptividade e a visão se torna clara, transparente. Nos módulos fotovoltaicos é a mesma coisa, quanto mais limpos maior potência de captação e maior geração de energia.
Nesse sentido, o credenciado da Domuss, que também é Engenheiro de Controle e Automação formado pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), orienta limpeza regularmente com materiais adequados e feita por profissionais capacitados. Lucas aconselha a utilização de espuma com água abundante e detergente neutro para não causar fissuras e corrosão no módulo e comprometer o funcionamento do painel solar.
Sistema fotovoltaico alimenta ordenha de búfulas
Engana-se quem pensa que sistemas para captação de energia solar são utilizados apenas para atender as demandas da cidade. O agronegócio tem ganhado cada vez mais força gerando competividade, diminuindo os custos com energia elétrica e priorizando a sustentabilidade. Um exemplo está na propriedade de Teodorico Domingos Marcon de 76 anos, no município de Xavantina.
A ligação para esclarecer algumas dúvidas sobre o sistema, pela orientação da filha Nailde, deveria acontecer após as 14h para não atrapalhar a siesta de Seu Teodorico. Receptivo na conversa e bastante comunicativo como bom descendente de italiano, diz que os painéis estão funcionando e ajudam na economia. “Antes gastávamos em torno de R$350 a R$ 450 de luz, agora baixou bastante, mês passado veio R$ 70.”
Contratado pela Engetrom de Xaxim, credenciada a Renovigi, o sistema conta com 14 módulos e potência para geração de até 500 kWh. Estão instalados no telhado do galpão para potencializar a captação da energia solar conforme análise técnica e atendem, entre outras demandas, o uso da ordenha. O investimento inicial de R$ R$ 17 mil foi viabilizado através de financiamento pelo banco Santander. Conforme indica a diretora da Engetrom, Claudia Maria Chiarello Trombetta a economia foi de aproximadamente 75%. “Se fizermos as contas no decorrer do ano, o cliente economizará em torno de 5 mil e, ao longo de 25 anos, a economia prevista é de R$ 128 mil.”
A propriedade de Teodorico conta com 140 hectares de terra distribuídos na criação dos bubalinos, pequenas plantações de feijão e milho e sorgo para pastagem. O município localizado na região Oeste de Santa Catarina, conta com aproximadamente 4 mil habitantes e detém o reconhecimento de maior produtora de suínos do Brasil.
Questionado sobre o interesse numa atividade diferente do tradicional, Teodorico volta no tempo e diz que a história começou há 30 anos. “Vi uma reportagem na televisão deles [búfalos], soube que tinha algumas cabeças nos arredores do Rio Grande do Sul e fui procurar. De primeira já comprei 3, depois busquei mais alguns em Água Doce/SC e meu plantel foi crescendo.”
Atualmente a propriedade conta com 130 cabeças e a produção de vacas leiteiras foi substituída, aos poucos, pela criação dos búfalos, que também despertou para a utilização do leite. Diferenciado pelo maior nível de gordura, concentração de vitamina A e cálcio em relação ao leite de vaca, são ordenhados 4 animais que produzem 30 litros por dia e aproximadamente 900 ao mês. A matéria prima é utilizada na produção de queijos artesanais, além do próprio consumo para a família. “Desde que comecei com eles meu café da manhã é leite puro, se for comparar com o de vaca parece soro, o de búfala é adocicado e com maior teor de gordura. Um leite mais forte e o queijo tem bastante procura pela qualidade e diferenciação do produto,” avalia Teodorico.
Empresário do campo daqueles que gostam de colocar a mão na massa e participar ativamente do dia a dia, não abre mão de estar à frente do trabalho com o apoio da companheira de vida Teolides Lúcia, da mula e do cachorro Lobinho, ajudantes para agrupar e conduzir o rebanho até o brete e depois, até a pastagem. “Pelo tamanho e rusticidade dos animais as pessoas pensam que são brabos ou podem avançar, mas quando veem a forma que lido com eles entendem o porque não sou capaz de ficar sem esses bichos, não troco por nada, é algo que está no meu sangue.”
Os animais podem pesar entre 350 a 400kg e chegar até 800kg. “São diferentes do gado que comem bocada aqui, bocada lá. Eles baixam a cabeça e comem parelho, por isso, engordam mais fácil.” Esse entusiasmo com a engorda significa a efetivação de negócios, grande parte dos animais é vendida para frigoríficos de Coronel Freitas, Xanxerê e Chapecó. E com o mesmo gosto de quando começou, Teodorico não se importa em vender algumas cabeças para quem deseja começar com os animais.
MAIOR PRESENÇA NO CAMPO
A energia solar vem unindo sustentabilidade e economia acessível a todos e potencializando pequenos, médios e grandes negócios. O município de Xavantina está numa crescente e já soma 44 projetos instalados com 677,17 kW de potência instalada. O maior número, 34 sistemas fotovoltaicos, encontra-se no campo com potência total de 563,03 KW, seguido por 3 projetos no comércio com 64,10 kW, em residências com 5 sistemas que representam 32,54 kW de potência, enquanto industrial, menos significativo, com apenas 2 projetos e 17,50 kW de potência instalada.
Bons resultados para potencializar pequenos negócios
O empresário e economista, Marcos Curtarelli de 45 anos também viu na energia solar potencialidades além de bons resultados financeiros, mas especialmente na preocupação socioambiental. “Uma das energias renováveis e realmente limpa é a do sol, a primeira da cadeia. Além de atender a minha preocupação ambiental, gera benefícios pela redução no valor pago de energia elétrica. Aconselho todos colocarem porque cada vez mais precisaremos de energia”.
Marcos e a irmã Márcia tocam o negócio familiar que começou com o pai em 1975, em Chapecó. Como bom economista leva a sério a expressão de colocar tudo na ponta do lápis, não diferente na análise de prós e contras para a instalação de um sistema fotovoltaico. “O mercado Curta têm 45 anos e pagamos energia elétrica há 45 anos, esse gasto nunca se recupera. Então, por que não investir em um sistema para gerar energia e que se amortiza com o passar do tempo?”
O projeto conta com 75 módulos fotovoltaicos e o investimento foi R$ 120 mil. Instalado a dois anos, o empresário estima retorno num prazo de 7 anos. “É uma diferença mensal significativa comparado com o tempo de pagamento de 84 meses. Antes da instalação o valor na fatura girava em torno de R$ 3 mil, agora gastamos em média R$ 300 a R$ 400. O mês que mais paguei foi em função de vários dias de chuva, onde a conta alcançou R$ 700.”
QUASE QUINHENTOS SISTEMAS EM CHAPECÓ
Chapecó conta com 495 sistemas de energia limpa instalados e potência total de 4.700,27 kW. Para uma cidade com mais de 200 mil habitantes, importante centro industrial, exportador de produtos alimentícios e referência no agronegócio como base da economia, o segmento fotovoltaico têm potencial expressivo de crescimento. Entre os setores, que concentram maior presença de eletricidade gerada através da energia do sol, estão os projetos residenciais com 367 sistemas e potência de 2.022,88 kW, seguido pelo comércio com 78 projetos com 1.897,38 kW, enquanto na terceira colocação, aparece a área rural com 38 sistemas e 591,70 kW de potência instalada e, por último, o setor industrial com apenas 12 projetos e potência de 188,31 kW.
Estímulo competitivo para agricultura familiar
Seja no campo ou na cidade, a geração de energia através de sistemas fotovoltaicos pode beneficiar diferentes atividades, a exemplo da produção avícola, bovinocultura de corte e leite, mini-indústrias, sistemas de hidroponia, irrigação e outros. Investimento que, além de reduzir custos de produção, é uma forma limpa e que não agride o meio ambiente.
O agricultor Amaray da Silva de Lucas do Rio Verde, Mato Grosso resolveu apostar. “Nossa conta de luz estava vindo muito alta, especialmente nas épocas em que precisava irrigar a plantação. Ouvi falar sobre as vantagens, que poderia ter no meu negócio mesmo sendo pequeno e quis saber mais. Participei de uma reunião na cidade e no mesmo dia solicite uma proposta,” conta.
Aos 52 anos e na agricultura familiar desde 2016 a Chácara Três Irmãs, que faz jus ao nome pela participação das filhas Keidy, Keidiane e Keidylene, produz ao mês aproximadamente 4 mil quilos de alimentos. O cultivo abrange verduras e hortaliças, limão, maracujá, pimenta de cheiro, jiló e pimentão verde nos quatro hectares de terra da família. A distribuição é parcelada e contempla vendedores ambulantes, supermercados, Cooperativa Cooperriso e escolas cadastradas no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que recebem produtos da agricultura familiar.
Para instalação do sistema solar, Amaray solicitou orçamento para Vento Minuano Energias Renováveis, empresa credenciada a Renovigi no Mato Grosso. O agricultor viabilizou a aquisição com financiamento do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Governo Federal, subsídio que objetiva o fortalecimento de atividades e serviços relacionados a pecuária. “Além da economia na conta de luz, consigo pagar o financiamento que ainda me possibilita 1 ano de carência. Estou há dois com o sistema e muito satisfeito, já dei bastante conselho para as pessoas. Esse negócio de energia solar faz jus a economia, é bom e viável.”
Conforme o proprietário da Vento Minuano, Vagner Marcos Rhoden após análise e elaboração de projeto, foram instalados 40 módulos com estruturas de fixação para o solo. O investimento inicial por parte do cliente foi de R$ 60 mil e a geração mensal é de 1600KWh, gerando uma economia de R$1.100. O valor da conta de energia que antes chegava em torno de R$1.300 diminuiu para taxa mínima de R$ 60.
AVANÇO SIGNIFICATIVO
Cidade com aproximadamente 67.620 habitantes, Lucas do Rio Verde conta com um número significativo de projetos renováveis, são 777 e potência total de 14.645,68 kW. Se comparado com Chapecó, onde o número populacional é quase o dobro, a diferença é de 282 projetos a menos, uma vez que Chapecó conta com 495 sistemas. Ainda, conforme dados da Nibble, startup de tecnologia da Renovigi, a maior presença na cidade do Mato Grosso é em projetos residenciais, 511 que atingem 4.169kW de potência, seguido por 160 instalações comerciais com 4.306 kW e pelas 70 instalações rurais que representam 5.415 kW de potência instalada, enquanto em última colocação estão os 32 projetos industrias que juntos somam 596 kW.
Essa amostra significa que as energias renováveis estão adquirindo papel estratégico para pequenos negócios e são uma solução acessível em termos financeiros, uma vez que a aquisição de um sistema pode ser efetuada de diferentes formas, como por exemplo, através de financiamento.
Izabel Aparecida Guzzon – Jornalista/MTE 5573/SC