Uma família formada pelo esporte

O que te faz acordar todos os dias? Em quem você se inspira? Onde imagina chegar? Com quem gostaria de chegar? São a partir de perguntas, mas principalmente das respostas, que buscamos o sentido de uma vida bem vivida, agregando valor nas relações pessoais e profissionais. Para Eduardo Oliveira, não foi apenas a vontade de mudar, mas a capacidade transformadora do esporte. “Aos dez anos tive o primeiro contato com drogas, morávamos na periferia e o próprio espaço condicionava algumas posturas”.

Criado pela mãe no bairro Carvalho, em Porto Alegre, Eduardo teve uma infância e adolescência marcada por contratempos. Aos 14 furtou uma escola e foi preso. “Talvez fosse um vazio, carência de algo que não tinha dentro de casa, a referência do meu pai,” diz.

Até sair das experiências conturbadas, foi testado várias vezes. Com um grupo de amigos assaltou um pet shop, ao comercializar a mercadoria, conheceram um professor de jiu jitsu. O contato foi a oportunidade que, anos mais tarde, transformaria a vida de muitas crianças. “Ele dava aulas em casa, demonstrou interesse na minha história e me convidou para treinar. Posso dizer que esse foi o momento que tudo começou,” conta Eduardo.

O nascimento das filhas, aos 22 e a fé, aliado ao amor da avó, também foram elementos fundamentais. As aulas iniciaram no quintal de casa e seu primeiro aluno foi ele mesmo. “O começo foi difícil, ninguém acreditava em mim, fiquei mais de um ano só com um aluno. Um dia, passei por uma carroça que recolhia material reciclável, vi dois irmãos e convidei para treinarem comigo. Como tinham que ajudar a mãe, ofereci uma cesta básica por mês,” conta.

Hoje, um deles é atleta na Irlanda e outro em Abu Dhabi. Os dois também ingressaram na faculdade. Originária do grego, Gaditas significa nascido para vencer, lembrança permanente tatuada no braço esquerdo de Eduardo. Atualmente o projeto atende cerca de 200 crianças, e as aulas são ministrados pelos próprios alunos com idades de 16 e 17 anos.

“As crianças e jovens chegam aqui com a vida do avesso, sem esperança, sem sonhos, com dificuldades na família. O Gaditas não dá nada, nós só ativamos o que está dentro deles. É isso que aprendem aqui”, pontua Eduardo que faz uma comparação. “A gente nasce com dois lados, o bom e o ruim, se eles estiverem apertando o botão do lado ruim, nós temos o compromisso de direcionar para o bom, por que é nele que podem florescer”.

Eduardo também é pai de nove alunos e outros dois estão em processo de adoção. O projeto Gadita conta com campeões Brasileiros e Mundiais e foi reconhecido como melhor equipe kids do Rio Grande do Sul pelo top ranking 2016/2017.

“Todo mundo diz que drogado não tem cura, que fica apenas um tempo sem usar, mas eu sou um exemplo. Estou há 12 anos sem me envolver com nada, isso aqui é minha vida e se eu tivesse desistido, não estaria falando contigo”. O atleta acrescenta, “dizem que o câncer não tem cura, que a pessoa irá morrer, mas te questiono, como se explica quem passou pela experiência e se curou? Com os dependentes químicos é a mesma coisa, é preciso quebrar um tabu.”

ENERGIA PARA UM UPGRADE

O Gaditas se mantém com doações de voluntários e, recebeu um upgrade de onde menos imaginavam, a energia da luz do sol. “Uma amiga que é professora viu a campanha e nos indicou”, conta Eduardo que se refere ao Energia do Bem, projeto criado em 2018 pela Renovigi Energia Solar para a doação de sistemas fotovoltaicos para instituições sem fins lucrativos.

O projeto, foi uma das 144 instituições beneficiadas com a doação de um gerador fotovoltaico com 10 módulos de 340W da marca Risen e 1 inversor Renovigi de 3kW. A instalação de forma gratuita foi realizada pelo parceiro da EnergiaEco, de Porto Alegre. A conta de luz que antes chegava a R$ 900 baixou para R$ 250.

Em 2022, o Gaditas estará de casa nova, no bairro Assunção em Porto Alegre. Para conhecer mais sobre o projeto, clique aqui. “Nosso objetivo é salvar vidas, quero que essas crianças tenham mais oportunidades através do esporte e uma vida mais feliz,” deseja Eduardo.

Izabel Aparecida Guzzon – Jornalista/MTE 5573/SC

 

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