Psicóloga, dançarina do grupo É o Tchan, bióloga marinha, apresentadora de televisão. Eu quero conquistar o mundo, ser famosa, modelo de passarela. Quero ser livre. Eu, quero ser mãe. Sonhos, difícil encontrar quem não os têm, cada uma de acordo com suas particularidades e ideais de felicidade. O Dia da Mulher, assinalado em 8 de março, reconhece a mobilização desse grupo que representa 51,8% da população mundial, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) 2019, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A data, também traz reflexões. Foram caminhos árduos, desafiadores, mas cheios de mudanças em diferentes aspectos.
“O que mais penso nesse dia é o quanto nós, juntas, fazemos a diferença. Tenho aversão dessa coisa ‘mulher não tem amiga mulher, tem que competir’, é tamanha ignorância. Acho tão lindo e bacana a amizade e união entre nós, o apoio coletivo e de valorização mútua. Gosto por ser um momento em que, de certa forma, ficamos unidas em uma coisa só,” avalia a Tax Manager da Renovigi, Ana Lídia Cunha, uma espécie de gerente tributária na definição em português.
A Renovigi Energia Solar conta com 86 profissionais distribuídas nas unidades de Chapecó e Itajaí (SC) e Louveira/SP. São mães, estudantes, esposas, irmãs, chefes de família e têm mostrado, cada vez mais, as potencialidades femininas. Essas mudanças, impensáveis há mais de 50 anos, colocam as mulheres em maior participação no mercado de trabalho, a conquista pelo aumento salarial e o destaque em cargos cobiçados no executivo. Podem estar em um salto agulha, usando uma botina na construção civil, instalando uma usina de energia solar, nos gramados ou ainda, superando os limites de resistência em testes físicos.
SONHOS DE MENINA
“Já sonhei com tanta coisa. Até meus 13 anos queria ser bióloga marinha e trabalhar no arquipélago de Fernando de Noronha,” conta Daiane Giaretta, 27. Os animais aquáticos deram espaço ao gosto por arquitetura e decoração, mas ainda não foi o que conquistou o coração da adolescente que escolheu Administração. “Não tinha muita certeza, fui contemplada com uma bolsa de estudos e não perderia a oportunidade.” Formada, a Analista Comercial da Renovigi, destaca as grandes mudanças na vida profissional – uma guinada de 360 graus. “Minha experiência sempre foi na área financeira, mas fui guiada para comercial e me encontrei. Agora se me questionar o que prefiro, já não sei responder. Gosto de ambas e digo que, em cada uma delas, têm uma Daia diferente,” risos.
Gabriella Gollner, 31 anos, pode facilmente ser identificada nos corredores da Renovigi, em qualquer das unidades. Chega de sorriso fácil e contagiante. Com uma fruta sempre nas mãos, adora trocar ideias, por telefone, com os parceiros das transportadoras. Quem vê a foto da Analista de Logística, ditando moda com os cabelos louros da cor dos trigais maduros e mão na cintura, não imagina que o sonho de adolescente era solucionar problemas e trabalhar com criatividade. “Queria ser forte, resolver problemas e fazer algo relacionado a criatividade. Lembro que era sensível, as vezes chorava fácil, mas dizia para mim mesma, um dia vou ser muito forte, poder comprar o que eu quiser e não depender de ninguém,” conta e acrescenta, “acho que sou muito mais do que imaginava ser. Sempre olho para trás e penso, a menina que era será que tem orgulho da mulher que sou? Tenho certeza que sim.”
Nessa ascensão feminina, elas curtem MMA, disputam futebol americano, estão nos gramados e têm presença em grande número nas fábricas. São mestres de obras, garis, motoristas, mecânicas e economistas. Isso pelo perfil observador, de liderança e pela assiduidade no trabalho. Mas além dessa pluralidade, a Analista de Logística têm um sonho intrínseco ao sexo, ser mãe. “Brinco que quero ser uma profissional de muito sucesso, viajar o mundo, fazer um MBA fora do País e falar umas 3 línguas, mas, meu maior sonho, é ser mãe. Que um dia meus filhos olhem para mim com o mesmo olhar que eu olho pra minha mãe e digam, cara, essa é minha mãe, a mulher mais forte do mundo. Se eles me olharem desse jeito, vai ser dever cumprido,” conta emocionada.
Na história de Daiane, as mulheres fizeram algumas renúncias para usufruírem o atual momento. “Devo muito a minha vó Leonilda, minha fortaleza, me emociono muito sempre que falo, sou mais feliz em poder compartilhar os dias com ela. E a minha mãe Adriana, é minha guerreira. Engravidou e me teve aos 19 anos, largou muitas coisas para poder estar comigo. Elas são minhas referências. Sem as duas não seria a pessoa que sou e nem teria a coragem e força de vontade para enfrentar os desafios da vida.”
UMA CÂMERA, SEUS OLHOS
Se essa câmera mostrasse você na adolescência, entre os 15, 16 anos, qual era seu sonho? A pergunta parece simples, mas traz recortes de uma época que, quando percebemos, passou faz tempo, mas que influencia o futuro, a partir da análise sobre a brevidade e nossa contribuição na vida.
A mulher atual domina a área da saúde, o cenário político, a justiça, educação e entende sobre “economês”. Ana Lídia faz parte desse time. Com um batom que realça a cor de seus lábios e um colar de pérolas que imprime elegância, a advogada é uma mulher de apreço pela liberdade. Não apenas pela tatuagem colorida com o desenho da uma libélula no antebraço, mas pelo espírito livre, destemido e sempre pronto a encarar os desafios. “Minha mãe era muito forte, uma mulher decidida, inteligente, para frente. Nunca imaginei ser menos do que isso. Fomos criadas desde pequenas para isso, para sermos o que quiséssemos”, Ana Lídia tem mais duas irmãs, a mais velha jornalista e a caçula, psicóloga. “Meu desafio maior foi ter que conciliar carreira, casa e filhos. Algo que, quando menor, nem passava pela cabeça” e brinca “sempre fui ‘prafrentex’, de querer algo e ir em busca, batalhar para ter”.
REALIDADE DE MULHER
Essas transformações – desde a conquista do direito ao voto até a eleição de mulheres na presidência, reforça o papel significativo e marca toda a história do Brasil. Ainda, muito está por vir. A autonomia é a bandeira que move o conglomerado feminino na busca pela igualdade nos diferentes aspectos da vida pessoal e profissional.
“Avalio que discutimos mais nosso papel, e o papel dos homens também. As vezes a mulher opta por ficar em casa para se dedicar à família e todo encargo financeiro passa para responsabilidade deles, isso é fato. E é uma responsabilidade pesada. Acho bacana quando você consegue dividir tudo, os gastos financeiros, os desafios emocionais da criação dos filhos e do conduzir uma vida e aí os homens passam a desenvolver um outro papel que as gerações mais antigas nem cogitavam, né?” considera a advogada.
Mãe da Dora e do Heitor, Ana Lídia visualiza um cenário muito mais otimista para as próximas gerações com modelos diferentes e um leque de opções. “A maior vitória é não fazer parte de um padrão. Não vejo que está 100% ainda, acho que caminho para isso quando Dora, de 8 anos, estiver adulta, porque para ela, não faz a menor diferença os estereótipos. Essa nova geração vai nos dar um baile, terão maior liberdade de escolha, se casam ou não, se optam por uma carreira ou não, sem toda essa pressão que a gente sente. Será mais leve,” avalia.
“Vejo que Dora tem o mundo inteiro pela frente e que ela vai conseguir fazer sua opção sem pagar um preço por isso, porque as mulheres lá trás, antes de nós já pagaram algo maior, nós pagamos um preço um pouco menor e, no momento que ela tiver mais velha, espero que não tenha preço nenhum. Hoje você consegue fazer isso, mas tem um efeito colateral, o que é péssimo.”
“Ser mulher? Olha, é bem difícil essa pergunta. Mas acredito que posso fazer referência a garra, força e determinação, principalmente no mercado de trabalho onde vejo que, já está mais valorizado, mas ainda não como deveria. Ser mulher é ser tudo, aprender, ensinar, participar,” destaca Daiane.
Já Gabriela Goellner, evidencia as características. “Muitas vezes nós estamos um passo à frente pelos detalhes, na sensibilidade em compreender e entender, que é mais forjado nos homens. Em situações consigo resolver problemas que eles não conseguem justamente pelo toque feminino, como se fosse a cereja do bolo. Também estamos numa pegada de power girls, empoderamento feminino e sororidade, o meu brilho não apague o teu e vejo muito isso aqui, na Renovigi – no apoio coletivo e ajuda mútua, uma corrente muito bacana.” Ainda, do ponto de vista profissional, Gabriela destaca a conduta em projetos, posições de gerência e adverte, “esse novo time, essa nova onda de mulheres frente a cargos de decisões é uma frente que não volta mais, ninguém segura essa mulherada.”
Izabel Aparecida Guzzon – Jornalista/MTE 5573/SC